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Mais tarde, nos estágios avançados, parei de dormir. Eu não me sentia cansado, e
minha mente estava muito equilibrada.
Primeiramente experimentei muito sofrimento e dor, porém mais tarde havia
grande alegria e interesse. Nos estágios mais profundos não havia nem exaltação
nem depressão, nem prazer nem dor, mas um estado de equanimidade. Naquele
estado profundo, passei vários dias vivenciando claramente cada uma das
características de impermanência, insatisfatoriedade e inexistência do eu. Nesse
estado, não se pode fazer nenhum esforço. A pessoa se entrega completamente e
tudo se torna natural e sem esforço. E uma consciência livre de escolha; a mente
está totalmente desprendida de todas as condições. Isto é conhecido como o estado
maduro de insight ou vipassana.
Em seguida há um estado mais avançado. E como uma morte, mas também
como um renascimento. Certa noite eu estava em estado de repouso, relaxado e
consciente com grande lucidez. Repentinamente, senti um fogo assustador e muito
poderoso queimar todo o meu ser, da cabeça aos pés, com uma tremenda
velocidade. Aquela foi minha primeira experiência aflitiva durante minha prática de
meditação intuitiva. Logo surgiu uma luz, acompanhada de frescor e profunda
percepção. De acordo com a tradição vipassana, isto é conhecido como o início da
vida espiritual, ou a  entrada na corrente .
Assim, depois de dois meses e meio, passei por essas experiências e
desenvolveu-se em mim uma confiança profunda e inabalável no dharma, além de
uma clareza da mente. Depois disso, continuei com minha prática durante alguns
meses.
Anagarika Munindra,  The Path of Insight ,
in The Vajradhatu Sun, Boulder, fevereiro-março de 1984.
REMBRANDT
Seu rosto de ressuscitado... Seu olhar de Além... A luz desse rosto, desse
olhar..
A luz!
Eis que meus lábios acabam de pronunciar as palavras carregadas de
mistério. Uma emoção me invade, a mesma de todos os dias, quando mergulho na
contemplação, no segredo da luz. É meu momento de oração. Todos os dias, de
manhã e à noite, quando o um verso se ilumina, quando o universo se apaga, um
delírio sagrado se apodera de mim. Meu corpo se imobiliza. Um deus penetra em
meu âmago. Meus olhos se ampliam mais e mais. Eles se tornam um espelho de
aumento, um filtro por onde vêm passar todos os raios de luz do ar. Meus olhos
absorveram esta luminosidade terrestre de tal maneira que dominam até os mínimos
matizes. Primeiramente eles a decompõem em uma infinidade de cores, todas
aquelas do arco íris. Cada uma dessas cores começa então a dançar, a vibrar, a
reunir-se às outras, a tomá-las e a deixá-las. Tal como as trinta mil abelhas de um
enxame que vai se formar.
Ao meu redor, há uma dança contínua e turbilhonante de raios coloridos.
Cada um é composto de milhões de grãos de areia, onde alguns são de orno
brilhante e outros, de ouro opaco, e eles giram prodigiosamente, em uma louca e
feérica sarabanda. Eles se colocam sobre o chão, sobre minha mão, a parede, cada
objeto. E o chão, a minha mão, a parede, o objeto, por sua vez, começam a fremir, a
tremer, a vibrar. Eles também estão tomados de uma histeria luminosa. Eles também
se decompõem em todas as cores, todos os matizes do sol. Minha mão não é mais
feita de carne humana, imensuravelmente granulosa, mescla de um cinza descorado
e um amarelo sujo. Ela se torna uma praia enrugada e rósea, onde brincam miríades
de tons sobre os quais corre uma espécie de rio de ouro. Na sombra das árvores ou
nos cantos mais escuros do aposento, a luz se insinua, conquista, explode. Sob sua
pressão, porções de sombra se iluminam pouco a pouco como versos brilhantes se
preparando para nascer Depois, aos poucos, a sombra se enche de um calor vivo.
Resta a sombra, mas sombra que respira e convida. Ela é um ventre em trabalho.
Prisioneiros da sombra, uma multidão de corpúsculos se agitam, captam grãos de
luz, apoderam-se deles, fazem nos faiscar, depois voltam ao seu nada e, em
seguida, retornam à vida ardente e flamejante. E é um combate que não tem
interrupção, onde se podem sentir, na sombra que queima, dois exércitos em terrível
luta, onde milhares de grãos de poeira passam sucessiva e indefinidamente, no
mesmo segundo, da morte mais negra à vida mais brilhante.
Sobre cada coisa difunde-se um fluxo de luminosidade. De meus olhos,
parece-me, verte-se um outro fluxo dourado. Já não sei mais se a irradiação vem
das coisas ou se ela nasce de meu olhar. Estou mergulhado em um banho de sol.
Em toda parte e por sobre tudo, chove luz. Entre mim e a natureza, há uma cortina
transparente de gotículas douradas. Uma correnteza de mel líquido ensolarado, uma
imensa poeira de estrelas.
E eis que este rio dourado torna-se o fundo ornamental de tudo o que quero
pintar. Ele impregna tudo com sua chama quente, enriquecendo-se ao mesmo
tempo com os tons próprios de cada corpo, de cada sentimento que nasce do
próprio objeto.
Saskia está sentada em meus joelhos. Aperto seu corpo e levanto meu
copo. A tela toda vibra com um ouro alegre, com um dourado de juventude
inebriante e triunfante.
O Dr. Tulp ensina a seus sete colegas os segredos da anatomia. O ouro
verde e frio do cadáver reflete-se nos rostos tensos, nos colarinhos, em todo o ar do
quadro.
Os advogados trabalham, ao redor da mesa do conselho. Sua carne
iluminada comunica seu ouro avermelhado, um tanto pesado, ao tapete, ao livro, aos
colarinhos, às paredes forradas de madeira  a toda a sala.
Do Gólgota, descem o Crucificado. Já não é mais o verde natural, razoável,
do cadáver de Tulp. É um verde fúnebre e misterioso, embaçado e um tanto
carregado de ouro manchado que, a partir do corpo encurvado, se espalha e se
concentra sobre a roupa branca, sobre a madeira com marcas de sangue, os
apóstolos compassivos, o espectador opulento.
Luz, luz, alegria e tortura de minha vida! Glória à tua embriaguez e ao teu
reino fascinante. Chove luz! Chove luz! Tu me levaste tão alto quanto a Alighieri, no
esplendor dos Paraísos que os homens absolutamente não conhecem. Tu fizeste de
mim o maior ser do mundo. Um Visionário... Um Maldito!...
Então eu te bendigo, prosternado na mais escura de tuas sombras ardentes;
eu te bendigo, Tu, minha esposa, Tu, minha alma: Luz!
In Raoul Mourgues, Rembrandt Kabbaliste - Le Manuscrit de Rembrandt, Éd. de Ia Baconnière,
Boudry-Neuchârel, Suíça, 1948.
JEAN-PAUL SARTRE
(através de seu personagem Roquentin) [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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